domingo, 28 de março de 2010

Ressaca

Acorda. Aquele estômago embrulhando, e lembra-se que a dor de cabeça tinha passado, mas já é tarde para comemorar porque ela já está de volta ao seu posto, aquele gosto de cinza na boca, aquele gosto que sempre aparece nessas manhãs, mesmo sem ter fumado.
Olha no relógio, 7 e 30 da manhã. Claro! Seu corpo faz questão de te acordar cedo para que você sinta tudo com a maior intensidade e pelo maior tempo possível. Ele inocentemente aceitou tudo que você ingeriu, aceitou, aceitou e aceitou, mas agora faz com que você aceite a porra da ressaca!
Aqui, agora, onde não se pode nem pensar que a cabeça estremece não se pode falar que dói e pior, não se lembra porque diabos ficamos assim.
Daqui a algumas horas seus amigos também vão acordar, e te ligar, pra te zuar, por você ter extravasado na noite anterior. Por que você chorou, por que você gargalhou, ou se enrolou. Seja o que for alguma coisa você fez!
Ressaca é mesmo uma merda.
Por que não dá para ficar só na manguaça? No auge do momento, fazendo o que se tem vontade. Se livrando de tudo aquilo que ficava preso, guardado, escondido.
Ressaca é como aquela pessoa chata, que todo mundo convive com uma na vida, que te enche o saco e joga tudo na sua cara.
Quando a gente se despede dela, esperamos não encontrá-la mais, prometemos maneirar, ou qualquer coisa do tipo. Mas quando dizem que gostamos de sofrer, deve ser a pura verdade, por que na primeira oportunidade já estamos nós lá de novo bêbados cumprimentando-a: “Oi Rê! Senta aí e toma uma, que mais tarde a gente leva aquele papo.”

sexta-feira, 26 de março de 2010

Perfeitamente contraditória

Não sabia se queria ou se não, às vezes dizia que sim, às vezes pensava que não. Teimava que queria, mas na verdade não sabia, era boa de mais, mas se pegava com pensamentos maldosos de mais. Sentia X falava Y. Nic era confusa de mais esquisita de mais, errada de mais, simplesmente por ser perfeita de mais.

Dizia-se que era alguém legal, ideal, era só não se apaixonar por ela.

“tudo aquilo que obviamente não presta sempre me interessou muito” era assim, e assim como Clarisse sabia que era. Ela sempre fora sortuda, sempre teve escolha em todas as situações, e sempre escolhia o “errado”. Talvez não fosse tão errado assim de certo. Mas sempre escolhia o que tinha mais chances de em algum momento não ser. Gostava do difícil, do desafio. Desejava o mais complicado, desejava o que não tinha, mas sabia que passaria a ter, e fazia acontecer, sempre o fez. Gostava do que era indiferente perante a ela. Cativava, conquistava, enfeitiçava.

Nic era assim uma tentação adorável. Uma eterna contradição. Era perfeita e se contradizia ali também, não gostava da perfeição. Tão sincera que enganava.

Não se apaixone por Nic.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Microcontos

Uma moda no twitter são os microcontos, onde os usuários postam histórias em seus respectivos twitters. O @curtaconto surgiu com o intuito de agrupar e não deixar que estes pequenos contos se percam. (Mais detalhes de como funciona aqui ) Achei um tipo de literatura bem bacana, me surpreendi com alguns e até me arrisquei escrevendo outros. Aí vão os dois que escrevi e alguns dos meus preferidos:

O silêncio que custou o destino, a escolha que mudou as palavras, centenas de coisas ditas, mas a verdade ocultada. #curtaconto Por: @isamoema;
Os instrumentos pararam, mas a música parece ter continuado. E se lembrou do que acabou, mas do amor que ficou. #curtaconto Por: @isamoema;
"Não queria nada sério. Dei corda, dei corda, dei corda até que algo se rompeu. Coração não é brinquedo." #curtaconto Por: @Carrico;
"Ele falava pelos cotovelos, ela falava pelo coração mas não dava para entender tanto silêncio." #curtaconto Por: @suzannamartins;
"O egocêntrico, que morava só, fugiu de casa e ainda fala, aos quatro cantos, que sentirão a falta dele." #curtaconto Por: @panzaguerson;
"Veio interferindo deixando todo seu rastro em mim. E foi solto. O corpo treme, ardor dessa dor a espera de um toque seu, q ñ vem." #curtaconto Por: @SatiKaos;
"Tem dias que parece que nenhuma roupa, serve, nenhuma comida apetece, nenhum sorriso conforta. Parece que o dia não me cabe." #curtaconto Por: @SatiKaos.

Que os microcontos são uma delícia de se ler já deu para perceber, mas agora até a academia brasileira de letras reconheceu isso e lançou o Concurso Cultural de Microcontos do Abletras.
Uma iniciativa super legal para valorizar esse “novo tipo” de literatura. Mais detalhes aqui. Se você escreveu algum ou viu outros bem bacanas sinta-se a vontade para postá-los nos comentários. =)

O #curtaconto que escrevi falando dos próprios contos: Ela se admirava com pequenos escritos, e fez deles inspiração para histórias que vivia, criava e sonhava. #curtaconto

segunda-feira, 8 de março de 2010

O Amor depois do fim

As lembranças ainda atormentavam Nicole, o quarto a lembrava dos tempos em que só chorava ou os que ainda sonhava, algumas músicas retratavam exatamente aquilo que ela sentira e que talvez ainda sentia, um cheiro levava-a de novo a história.

Beto ainda estava presente. Por mais que ela o mandasse ir embora, ele teimava em ficar. Lembravam juntos de momentos bons, e ela ainda brigava e discutia com ele sobre um fim sem adeus. Um tormento com o qual ela aprendia a viver; só balançava novamente quando via Roberto, o de carne e osso, não a lembrança do seu Beto.

Sozinha em seu mundo, sempre sonhadora, Nicole superava o que foi mesmo sem saber dos porquês. Seu Beto, sempre presente, lhe dizia que continuaria ali, fazendo cafunés no cabelo quando as lágrimas não suportavam as lembranças, e fazendo-a sentir-se linda como sempre o fizera. Lembravam-se das surpresas de um aniversário, de vários shows. De tudo que foi e que não é mais. Lembrava-se de quando eram Nic e Beto. Algumas pessoas ainda perguntam:

- E o Beto como está?

E ela responde com um meio sorriso: - Não sei a Nic e o Beto não existem mais.

E ela não mente, os dois mudaram; O Beto da Nic é só da Nic. É o Beto que a fazia rir, que lhe tirava o sono e o fôlego, era com quem ela fazia planos, com quem inventava bebidas estranhas, com quem tomava aquele porre e que via os jogos do time do coração, era ele que lhe enganava, chamando-a para tomar uma dose de cachaça e só fingia que bebia, deixando-a beber sem ver; e depois riam disso. Este Beto só existiu para a Nic, se é que existiu de fato; talvez fosse apenas uma fantasia de Nicole em cima de quem Roberto realmente é. Até por que no fim, Nicole já não reconhecia Roberto como seu Beto. Talvez por isso não ouve adeus. Porque o Beto ainda era só dela. O Roberto era a presença real.

Nicole andava pelo supermercado, tinha ido comprar ração para os gatos e sorvete de limão para ela, já na fila para pagar vê Roberto no caixa eletrônico. Os dois se cumprimentam, a tentativa de parecer que estava tudo bem, um sorrisinho amarelo aqui e ali...

- Oi Nic! Tudo jóia?

-Oi, Tudo bem e com você?

-Bom também... E tem visto fulano? - Yada, yada, yada; e Nic só pensava no adeus que não foi. Beto continuou: - Então tchau, a gente se vê. – Beijinho no rosto e ele vai saindo.

Nicole ficou ali inquieta, pensamentos a mil, tremeu, viu de novo o seu Beto. E não agüentou, gritou: - Beto! – Ele parou a olhou, voltou; ela com um ar de lembrança, de um jeito que Beto nunca a vira, aproximou-se dele, colocou a mão na nuca de Beto e o beijou. Um beijo que recordou tudo aquilo que foi. No fim Nic já estava com lágrimas nos olhos. Beto ia falar alguma coisa quando ela lhe tampou a boca e com um sorrisinho nos lábios molhados de lágrima disse:

- Só nos faltava esse adeus.