Estava ali, empoleirada no murinho da varanda olhando as nuvens que previam chuva, as poucas estrelas. Olhava as luzes da cidade, e os vestígios das televisões ligadas dentro de cada casa. Não queria muito, só não queria pensar em nada de importante, só não queria muitas coisas. Não queria ser fraca como sabia que era, não queria amar como amava, não queria ter os sonhos que tinha. Talvez só quisesse aceitar tudo que não aceitara.
Sempre dissera que nem ela sabe como é, portanto não queria que ninguém esperasse que ela fosse de qualquer maneira. Não queria ser a filha perfeita, nem mesmo queria ser assim tão impulsiva.
Achava um porre tudo aquilo que remetia a “quieto”, nem mesmo quando estava quieta o turbilhão que ela era acalmava-se. Se não estava inquieto de felicidade poderia ser de raiva, tristeza, angústia ou TUDOJUNTOAGORA. Mas nunca estava vazia.
Imaginava os milhares de destinos que poderia seguir, quantas escolhas ainda tinha para fazer e quantas não estava fazendo enquanto estava parada ali. Por dentro ela se movia com a velocidade do mundo.
Sentia vontade de fazer tudo que se pudesse fazer agora, e por querer fazer tudo estava ali sem fazer nada. Sentia-se presa e suas grades eram apenas suas vontades.
Então, tudo cessou. Ela não viu que ele tinha acordado. Só sentiu o abraço forte e aconchegou-se.
Ali ela descobriu que estava no melhor lugar e o seu maremoto de vontades rendeu-se a calmaria, como as marés que são comandadas pela lua.
Este conto, foi o primeiro de muitos, em parceria com meu querido Phillipe o @Phiwod. O garoto das janelas e varandas, que gosta de Chico e escreve O espontâneo.