terça-feira, 18 de maio de 2010

Só mais um sonho...


O nome dela é flor, apareceu não se sabe de onde, nem como. Achamo-la na porta de casa, tinha um miado estranho, de desespero mesmo. Escutei, saí na porta de pijama e tudo por conta do estranhamento com aquele miado. Deparei-me com uma gatinha muito pequena, magrela toda a vida e feia, como nem se pode imaginar, parecia que era cheia de peladeira, mas hoje sabemos que eram os pelos loiros no meio dos pretos e castanhos que davam essa impressão. Bateu aquela pena, chamei minha mãe, ela é fissurada por gatos. Mesmo com vergonha, confesso que tivemos nojo de pegá-la, mas o coração é mole, muito mole. Deixamos que ela morasse na varanda, alimentamos, cuidamos e nos apaixonamos. Já nem me lembro mais como ela passou a morar dentro de casa. A deitar no colo do meu pai na hora do cochilo da tarde, e nos seguir cada vez que alguém sai de casa. Um doce.
Hoje pouco depois que meu pai foi viajar, sentimos falta da Flor, minha mãe desesperou pensando que ela havia entrado na mala do meu pai e estaria agora voando por aí, já com quase certeza de que teria sido este o destino da gata, ela abre a gaveta do meu pai para guardar umas roupas e lá estava ela, calma, dormindo, misturando-se aquele cheiro que pai tem. Ao mesmo tempo, eu também o fazia deitada na minha cama, abraçada a um travesseiro que me trás boas lembranças.
Estava me lembrando do quão fofinha, lindinha, gracinha, espertinha e todos os “inhas” que eu era. De vez em quando é bom a gente “se olhar” e ver se ainda reconhecemos quem somos, ou quem achamos que fomos. Acabei me enxergando adormecida com o cheiro do encantamento, com o cheiro da opinião alheia, com o cheiro do não ser. Assim como minha gatinha dormia com o cheiro de meu pai. Levantei, e acordei, me senti novamente doce, como sempre o fui, me vi aquela garotinha cheia de sonhos, fantasias e sorrisos que era, ou sou, já nem sei mais. Assim como se tivessem aberto a gaveta da consciência.

Minha Flor não miou dentro da gaveta, mas acho que a menininha que mora dentro de mim, já esperneava faz tempo.

5 comentários:

  1. É algo mais ou menos assim:

    "Começo a conhecer-me. Não existo.
    Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
    Ou metade desse intervalo, porque também há vida...
    Sou isso, enfim...
    Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
    Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
    É um universo barato."

    Não?

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  2. Pensei em algumas coisas pra te falar e desisti.

    Então, me lembrei dessa música
    http://www.youtube.com/watch?v=2rGA1olf-ZI

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  3. Pode sim ser um pouco disso tudo.
    Mas muito mais uma forma de relembrar meus valores, do que eu era, do que eu sou, a simplesmente me fechar pro mundo inteiro.
    ;)

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  4. Phillipee!
    Gosto tantos dos teus comentários...
    Devia sim me dizer o que pensou. Depois me diga então ok?


    E a música traduz um pouquinho disso tudo sim. =)

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  5. Uau, cara, estou atônito. Sério.
    Seu texto está transbordando uma nostalgia e meiguice tão agudas que consigo sentir meu fígado doendo. E vai por mim, ele não costuma doer nem quando eu engulo gin, vodka, ou meus próprios textos pessoais derrotistas ou poemas de frustrações passadas.
    Se vc não se sente mal expondo esse tipo de sentimento no seu blog, acho que encontramos um novo significado para a palavra "inescrupulosa"

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