domingo, 15 de agosto de 2010

Deixe a fumaça impregnar


O que importa na verdade? Somos o que somos, queremos, pensamos, adquirimos. Influências, livros que lemos, filmes que vemos e principalmente a maneira como absorvemos tudo isso. Passamos, conhecemos centenas de pessoas, seus hábitos, manias, gestos. Amamos, odiamos, nos deixamos levar por pequenas coisas, desvios.

Vaidade, isso mesmo, talvez essa seja a maior de minhas fraquezas, que são muitas aliás. Quem não as tem não é verdade? Minimizo sem perceber meu potencial, meus pensamentos ficam absortos em minha própria imagem e vontades. Impregno-me de fumaça, fumaça de certo, mas rarefeita. Sem perceber, ou melhor, sem me importar. A muito que já não me importo com muitas coisas, ou sei lá, tento não me importar.

Fumaça, no final das contas somos apenas isso, fumaça. Algumas vêm e nos asfixia, outras apenas passam de maneira que a vemos, mas não a sentimos. Têm aquelas que se impregnam na roupa, e ainda aquelas que se fixam na pele, nos cabelos, nos pulmões. Não é preciso enxergar, nem esperar, apenas chegam, ou melhor, chegamos, sem que ninguém precise nos esperar. É só fumaça. É normal que desviemos os olhos dos nossos objetivos às vezes. É normal. Mas tem fumaça que clareia o caminho. Sim têm. Engraçado falar sobre enxergar. As “maiores” coisas que vemos não nos são apresentadas pelos olhos. É preciso tempo, calma, investigação, paz. E é por isso que tem fumaça que fica. A fumaça mais densa, que nos invade e nem por isso nos faz tossir.

São olhos, mas não é com eles que enxergamos. Alguns dos personagens que mais me intrigaram acabaram cegos. A matriarca Úrsula de Cem anos de solidão, o Monsenhor Bem-Vindo de Os miseráveis. Ambos enxergavam mais do que todos nós. Absortos na escuridão do que é terreno e material, enxergavam o amor incondicional, o melhor caminho, e encontraram a paz. O que é a cegueira se não uma abertura para que se veja melhor.

Daí você me pergunta: “e que fumaça eu sou?”

Não sei, é preciso ter olhos para te enxergar?

7 comentários:

  1. Sorte de quem tem fumaça pra ferir os olhos e se afastar do falso belo, do belo puramente exterior.

    Sem os olhos se enxerga o belo que realmente importa. E quando a fumaça se vai, a visão é só um sentido pra completar o quadro.

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  2. Realmente, existem fumaças e fumaças.
    Tudo depende dos componentes químicos que as produzem.
    Entenda "componentes químicos" como tudo aquilo que forma nosso caráter, nossas vivências e referências.

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  3. Felipe e Phillipe, e os dois entenderam perfeitamente o que eu queria dizer.
    Tem fumaça que a gente tem prazer em sentir. Tem outras que só sabe incomodar.
    E esses componentes químicos Carriço, fazem toda a diferença. São com eles que acontece a identificação. São eles que são decisivos se a fumaça vai impregnar ou não. Pelo menos para mim. =)

    Bom ver vocês por aqui.

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  4. Gostei da Srta ter mencionado a grande Úrsula, o José Arcádio Buéndia(seu esposo) tb seria digno de comparações futuras...

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  5. Claro claro, a realidade que ele vivia, ou que ele via além de todos, é papo pra muito texto, discussão e viagens.
    Só gostaria de saber quem comentou. Só de gostar de bons livros já deve ter um bom histórico.

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  6. Olha, digamos assim: lembre-se de uma pessoa improvável, agora eleve isso a um googol, essa pessoa sou eu.

    Nós estudamos juntos.

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  7. Oi, Isadora! Sim, você tem razão ao dizer que somos efêmeros. Esse lance de comparar-nos a fumaça eu achei muito bem sacado. Tai, não sei que fumaça eu seria. Talvez uma fumaça de chaminé de padaria, algo produtivo, não muito poluente. [sorrio]. Abraço!

    “Para o legítimo sonhador não há sonho frustrado, mas sim sonho em curso” (Jefhcardoso)

    http://jefhcardoso.blogspot.com

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